quarta-feira, 19 de março de 2008

Chocolate, doce delícia!


Coloque um quadrado de chocolate, qualquer chocolate... preto, leite, branco, com frutas secas... na boca, deixe-o derreter, desfazer- se.

Vá sentido a consistência, o sabor, o prazer único, exclusivo, requintado, sofisticado até, que privilegia quem o come.

E prepare-se para entrar no mundo, feito de fantasia e também de muito suor e engenho, que está para lá do prazer de degustar o "ouro castanho"

Quando o conquistador espanhol Cortez é confundido pelo imperador asteca Montezuma com o Deus Quetzalcoatl, cuja vinda à terra os oráculos tinham previsto para esse momento, não sabia Montezuma que o pseudo-Deus levaria ao fim da cultura asteca.

Mas também não sabia Cortez que as favas de cacaueiro que serviam de moeda entre os asteca, bem como de bebida dos deuses, elites e povo, e que trouxe consigo no regresso a Espanha, iam ter um tal impacto cultural na Europa.

Europeizado, ou seja, adocicado com cana de açúcar e perfumado com baunilha, logo no século XVI, pela arte de frades que colonizaram a América Central, o cacau batido com água substituiu o vinho entre os colonos.

Na Europa, espalha-se a partir do século XVI e o seu consumo terapêutico - as primeiras chocolatarias estão associadas a farmácias e o cacau é visto como um fortificante desde sempre - passa a ser também lúdico. A bebida de cacau é solidificada na Inglaterra e passa a ser vendida em rolos e em pastilhas, a partir de 1674.

É também na Inglaterra que se dá a industrialização do fabrico de chocolate, no século XIX, e a democratização do seu consumo, no início do século XX. Feito a partir das favas de três tipos de cacaueiro, cujo fruto, a cabossa - assim chamada a partir da palavra cabeça em castelhano -, varia no tamanho - "criollo", mais frágil, "forastero", o mais forte, e o "trinitario", conseguido a partir dos outros dois -, o cacau está cotado na bolsa.

Pelo caminho dos séculos, foi-se desenvolvendo toda uma indústria e uma arte, que passam pela criação do "praliné" pelo belga Jean Neuhaus, pelo cacau em pó e pela manteiga de cacau extraídos pelo holandês Van Houten, pelo chocolate de leite criado pelo suíço Daniel Peter, e o "fondant" criado por outro suíço, Daniel Lindt.

Hoje em dia já se sabe que não é afrodisíaco, como os astecas pensavam, assim como também é dado como certo que não é um vício. E até já se adaptou às regras de saúde pública, com a proliferação do fabrico de chocolates com frutose para poderem ser consumidos por diabéticos. Mas o prazer de saborear um pedaço de chocolate continua inteiro, completo, total. Como no primeiro dia.

 
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