quinta-feira, 13 de março de 2008

Meu cantinho....



Nasci e morei no Rio de Janeiro por 28 anos. Com um pequeno intervalo de 2 anos que morei em Niterói, o resto do tempo passei entre o subúrbio e a zona sul do Rio....Irajá, Madureira, Flamengo, Catete, de volta pra Madureira, mais um tiquinho em Irajá.
Ontem conversava com as meninas no msn, enquanto ele teimava em me jogar pra fora, sobre o tempo que trabalhei na Favela de Vigário Geral. Aquela mesmo da Chacina em 92. Fui professora no CIEP que divide a Favela em duas: de um lado Vigário, do outro Lucas. No meio, o único sinal de que o Governo existe, a escola pública.
Depois do papo, e de lembrar que também trabalhei na Maré (aquela da música dos Paralamas), fiquei pensando nos caminhos que me levaram a arrumar as malas e deixar o Rio pra trás.
Tem quem diga que não existe cidade mais linda, tem quem diga que não abandonaria jamais a "cidade maravilhosa"...mas pra mim ela perdeu o encanto faz muito tempo.
Eu não nasci para viver em cidade grande. E descobri isso a primeira vez que pisei aqui, no meu cantinho. Uma cidade pequena, com menos de 50 mil habitantes espalhados (muito espalhados, o que mais tem aqui é espaço vazio!) em quatro distritos. Sem água tratada, sem esgoto, com apenas 3 linhas de ônibus, mas com uma vida que segue em ritmo muito mais tranquilo.
Aqui eu conheço o jornaleiro, o padeiro, todos os vizinhos, sei do corte do pé que o Pedrinho arrumou, roubando manga na casa abandonada, das dores de cabeça da D. Amália, ganho bolo quentinho, assim que sai do forno. Aqui meu filho brinca na rua, joga bola na praia, anda de ônibus...aliás, o único ônibus que faz a linha aqui do bairro, cujo motorista ele conhece por nome e nunca deixa ele perder o ponto.
Aqui ainda vejo estrelas, num céu tão brilhante que faz a gente pensar que não é possível tantos planetas e vida só aqui.A violência aqui é roubo de galinha, uma bicicleta pega "emprestada" e devolvida no dia seguinte...que ninguém até hoje descobriu quem foi.
Saí do Rio estressada por 12 anos de trabalho em condições críticas de violência, de descaso do poder público, de falta de condições mínimas de trabalho. Não sei se isso pode ser visto como desistência, pra mim foi uma questão de auto preservação. Adoro a sensação de andar na rua e encontrar na pracinha a mãe do Marcos, e aproveitar pra bater um papo rápido sobre como ele vai na escola. Aliás rápido não, nada aqui é rápido, tudo tem um ritmo próprio.Gosto de saber que meus alunos não são números. Sei a história deles, conheço suas famílias, sei como vivem e faço também parte da comunidade.
Tudo isso com o mar mais lindo de brinde! Com a mata atlântica, o pouco que restou dela, servindo de moldura aos meus pensamentos. Com um silêncio cheio de pequenos sons, que na cidade grande já esqueceram...pássaros, ondas quebrando, gaivotas gritando, crianças rindo... Cidade maravilhosa? Ahhhh! Pra mim, aqui é muitooo melhor!
 
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