sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Culpa ou Responsabilidade?




Um dos sentimentos mais paralisantes do ser humano é a culpa. Ela congela emoções, faz com que enxerguemos tudo por meio de uma lente de aumento cruel, que exacerba nosso erros e minimiza quaisquer dos acertos. A culpa é punitiva e nem um pouco motivadora. Quando nos sentimos culpados de algo, sentimos junto um misto de vergonha pelo que fizemos e uma vontade enorme de nos escondermos, além de uma espécie de repulsa por nós mesmo.
Em meio ao lodaçal da culpa qualquer atitude do outro pode ser interpretada como uma ofensa e uma reafirmação dos nossos erros. Se alguém não sorriu é motivo bastante para que nos sintamos atingidos, cobrados, encurralados. É como um labirinto em que a culpa forma as paredes. Rodamos dentro dela e não encontramos saída.
Então isso significa que somos sempre isentos de culpa? Ou que nossas ações não devem ter consequências? Claro que se alguém matou o outro, ou roubou, ou cometeu qualquer crime, é sim culpado. Mas não me refiro a culpabilidade criminal. Falo daquela culpa de todo dia, culpa de não ter estado presente para um amigo ou não ter brincado o bastante com o filho. Culpa pelas oportunidades perdidas, por pessoas magoadas em nossa trajetória, pela falta de atenção aos nossos pais, pelas decisões erradas ao longo da vida. Essa culpa que vira uma bagagem pesada, um fardo difícil de carregar.
Não ganhamos nada com esse fardo, não acrescentamos nada em nossas vidas ao carregararmos essas culpas como parasitas nocivos em nossa existência. Claro que somos responsáveis pelos nossos atos e todos eles, querendo ou não, geram uma reação. Trata-se de uma lei da física. Não posso fazer algo sem que o Universo me responda, com uma força de mesma direção e mesma intensidade. Mas a Responsabilidade é pró-ativa.
Se tenho consciência que a situação em que me encontro é produto das decisões que tomei e assumo a responsabilidade por estes atos, sou capaz de, na sequência, tomar decisões que possam reverter tais fatos. Se a culpa paralisa, tomar pra si as responsabilidades de nosso atos nos torna capazes de mudá-los. Se a culpa aumenta nossos erros até um tamanho insuportável, a responsabilidade os torna claros e delimita seus campos de ação. A culpa imobiliza, a responsabilidade move. A culpa corrói, a responsabilidade liberta.
Não alimento culpas, apesar de saber que cometi enormes erros ao longo da vida. Tento aprender com eles e, quando possível, reconstruir aquilo que abalei com meus atos e decisões equivocadas. E também tento não culpar o outro. O que não retira deles a responsabilidade por cada uma de suas decisões.
O amigo que não ligou, o chefe que não foi justo, a prima que roubou o namorado, o filho que não entende uma correção, não merecem o fardo da culpa que muitas vezes fazemos questão de colocar em suas costas, mas devem saber que, estão sujeitos sim, as consequências de seus atos e devem ser responsáveis por eles. A diferença fundamental é que quando eu culpo alguém coloco junto uma carga de cobrança e de mágoa. Afinal se o outro é culpado eu tenho que, necessariamente, ser inocente. Quando deixo claro ao outro que apesar de reconhecê-lo responsável pelos erros, não quero dele uma culpa subserviente, mas uma atitude madura, uma mudança efetiva em sua relação comigo e com a sociedade, sou capaz de estender a mão e seguir em frente.




 
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