sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Exploradores da Miséria Humana

Cauã, 4 anos, morador de rua.
Você não precisa esperar a TV para ajudar!

Faz tempo que esse assunto ronda minha mente e pede para virar post. Mas algo acontecia e sempre ficava para depois. Começou lá atrás, no caso Isabella e voltou depois na entrevista da mãe de João Roberto e novamente no circo de horrores promovido pela TV, no caso Eloá. E o mosquitinho ficou rondando meu ouvido, até estourar agora com a situação caótica e desesperadora de Santa Catarina. Não falo da comoção justa e ativa de populares que se unem para aliviar o sofrimento dos catarinenses. E nem nego que tal sofrimento é imenso e digno de ajuda. Falo da exploração diária, da forma sensacionalista que a imprensa vem tratando o caso.
Uma emissora de TV que toma para si a "missão divina" de socorrer as vítimas e pede que não se doe mais água e alimentos, mas dinheiro. Dinheiro depositado em uma conta que ninguém sabe quem controla, que ninguém fiscaliza. De repórteres sensacionalistas que não buscam notícias, mas espremem suas "vítimas" na sanha enlouquecida de arrancar mais lágrimas que a equipe vizinha. Em filantropos de plantão, que vendem sua imagem de bons samaritanos, alardeando uma caridade que devia ser ato de todo dia. De quem aparece para chorar as vítimas de Santa Catarina, mas fecha os olhos aos meninos que dormem na sacada do seu prédio. E que pulam por cima de moradores de rua, estendidos no frio, para levar cobertores para "doação".
Essa caridade que precisa ser feita com comoção pública, que só existe por que a TV está filmando é que me irrita profundamente. Ou talvez irritação não seja a palavra certa. Choque e tristeza seria melhor. É triste ver o quanto as pessoas se tornam insensíveis a miséria que vêem todo dia e precisam da TV para convencê-los que aquela miséria, lá longe, é maior e mais importante que a que acontece todos os dias debaixo dos seus olhos.
Que ninguém imagine que me sinto insensível ao ver as imagens de cidades alagadas e famílias sem abrigo. A tragédia de Santa Catarina é real e as pessoas que lá estão sofrem e padecem de uma dor real. Que precisa ser sanada, que precisa de ajuda e cujo envolvimento e doações de todo país podem amenizar. É justo que recebam atenção num momento de tanta perda, isso é óbvio. O que não pode se tornar rotina é essa exploração da miséria humana transmitida em rede nacional e cuja única intenção é conseguir alguns pontos no ibope. Não se pode achar normal apresentadores de TV entrevistando sequestradores ao vivo, familiares sendo impedidos de seguir um enterro por que a TV precisa filmar cada lágrima, cada passo, para a necessidade vampiresca que alguns tem de acompanhar o sofrimento alheio. O que não pode ser comum é que a caridade só seja feita à luz de holofotes. Ninguém precisa esperar tragédias para ajudar por que existem tragédias acontecendo sob nossos olhos o dia inteiro, todo dia, do lado das nossas casas!
Ajudem Santa Catarina, enviem água, alimentos não perecíveis e roupas. Se organizem, seja em associações ou em condomínios, participem....mas não deixem essa mobilização morrer quando a TV noticiar a próxima tragédia! Não fechem os olhos aos que passam fome do seu lado, aos que sentem frio ali na esquina, aos que pedem socorro em sinais, aos velhos abandonados nos asilos, as crianças esquecidas em orfanatos...Não esperem a miséria em cores e rede nacional, quando ela existe do seu lado e você não vê. Não esperem o microfone para fazer caridade.
 
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