terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Porque Poesia é Fundamental...

Poesia é alimento da alma. Posso ficar sem ler um conto por dias, sem chocolate por uma semana e sem novela pelo resto da vida...mas dois dias sem poesia me causam uma séria crise de abstinência. Então se acostumem por que o tema será figurinha fácil aqui neste espaço. Amo Florbela Espanca, Fernando Pessoa, Drumond, Cecília Meirelles e um sem número de poetas ditos "menores". Adoro ler poetas novos, fuçar os sebos em busca de títulos menos conhecidos. Foi numa dessas incursões que conheci Ranier Maria Rilke.
Sugestão de um dono de sebo, que provavelmente estava irritado de me ver mexendo em tudo e não levando nada e chegou meio mau humorado para me perguntar o que eu estava procurando.
Acho que era dos meus, um apaixonado por poesia. Assim que ouviu a palavrinha mágica desfez a carranca e com um jeito soridente, sacou de uma pilha em separado, um livro assim fininho, de capa escura e jeito despretensioso. Era "Cartas a um Poeta", de Rilke. Nunca havia escutado falar no poeta, mas o rosto entusiasmado do dono do sebo e o precinho camarada do livro me convenceram. E no ônibus, no caminho para casa, nasceu uma paixão que resiste a muitos anos. Amo Rilke!
Essa paixão já me fez passar por situações engraçadas. Rilke é um poeta alemão e sua obra é pouco conhecida aqui no país, então me vi comprando dicionários de Alemão para ler o poeta em sua língua natal...bem esse desastre eu conto outro dia. Hoje, deixo aqui dois dos meus poemas prediletos deste autor, que morreu em 1926, mas cujos poemas ainda emocionam a alma de hoje em sua solidão de cidade grande.

O Fruto

Subia, algo subia, ali, do chão,
quieto, no caule calmo, algo subia,
até que se fez flama em floração
clara e calou sua harmonia.

Floresceu, sem cessar, todo um verão
na árvore obstinada, noite e dia,
e se soube futura doação
diante do espaço que o acolhia.

E quando, enfim, se arredondou, oval,
na plenitude de sua alegria,
dentro da mesma casca que o encobria
volveu ao centro original.

(Tradução: Augusto de Campos)

Canção de Amor

Como hei-de segurar a minha alma
para que não toque na tua? Como hei-de
elevá-la acima de ti, até outras coisas?

Ah, como gostaria de levá-la
até um sítio perdido na escuridão
até um lugar estranho e silencioso
que não se agita, quando o teu coração treme.
Pois o que nos toca, a ti e a mim,
isso nos une, como um arco de violino
que de duas cordas solta uma só nota.
A que instrumento estamos atados?
E que violinista nos tem em suas mãos?
Oh, doce canção.

(Tradução Paulo Quintela)


PS: Sebo, aqui no Rio, é como chamamos as livrarias que vendem livros raros ou usados. São verdadeiros parques de diversões para leitores compulsivos como eu.

 
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