domingo, 3 de fevereiro de 2008

Amores de Infância


O nome dela era Tetéia. Para os mais novos e desavisados, tetéia era como minha avó chamava os bibelôs ou enfeites que ficavam na estante. Mestiça de pequinês com teckel aquela raça que muitos chamam de salsicha, Tetéia era, na definição do meu veterinário, uma highlander. Como aquele guerreiro imortal do filme.
Nenhum de nós sabia direito a idade dela, o aniversário se perdeu nas memórias da minha avó. Mas ela já estava lá quando eu nasci.
Tetéia tinha uma energia inesgotável.Brincava de pega-pega de manhã, levava meus primos a escola, jogava bola na rua e depois servia de "bebê" nas nossas brincadeiras de boneca...com direito a fralda de pano e touquinha.
Tinha um milhão de manias provavelmente por que foi mimada até o último fio de pêlo. Banho? Só morno e mesmo assim bastava ver os apetrechos, tipo toalha e sabonete, e já se escondia embaixo da cama. Isso sem contar que os vizinhos tinham certeza que estávamos matando a pobrezinha...os ganidos e gritos eram ouvidos a quilômetros de distância.Para se secar botávamos as toalhas no chão e a princesa se secava sozinha. Tentar secá-la era uma guerra perdida, ela mordia as toalhas, fazia cabo-de-guerra e sempre acabava rasgando todas.
Dormia no quarto comigo e meus primos e a cada noite escolhia uma cama. E não adiantava choro, biscoito ou chantagem ela escolhia o felizardo da vez e os outros que se conformassem. Quando demos seus filhotes depois da única ninhada que teve, ela passou uma semana dormindo na varanda....acho que ficou zangada conosco.
Ela curtiu minhas brincadeiras de infância, lambeu minhas lágrimas quando me machuquei, destruiu alguns dos meus trabalhos de escola...E a medida que íamos crescendo nos ensinou o que era envelhecer. Mesmo cega aprendeu a se orientar em casa e continuava adorando um cafuné na barriga... para nós ela parecia mesmo imortal.
É verdade que já não tinhamos mais o mesmo tempo para ela e nem ela a mesma energia que antes, mas parecia tão natural entrar em casa e fazer um carinho nela, que passava agora os dias deitada na varanda da frente.
Eu tinha quinze anos quando ela foi fazer festa no céu. Por que não tenho dúvidas que todos os cães vão para o céu, afinal que tipo de lugar seria o céu sem cães?
Tetéia faz parte de todas as boas lembranças da minha infância e foi, sem dúvida, quem me ensinou que o amor sincero de um cão cura joelhos ralados, faz companhia nos dias de castigo e ensina muito mais que qualquer bronca.



PS: Na foto, Tetéia é a mais escura do lado esquerdo, os outros são seus filhotes (já grandinhos) com Pipo, o macho branco ao fundo. Foi por causa deles que ficamos uma semana sem companhia na hora de dormir....

 
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