terça-feira, 15 de abril de 2008

Da série, Aventuras do João...

Andando de ônibus....


Sempre que leio beijos para o João aqui, sinto um incontrolável impulso de viver um momento mãe coruja e contar aventuras do pivete. Tenho conseguido me conter...ainda bem ou vocês leriam textos e mais textos sobre isso. Mas hoje me deixei levar pelo impulso e resolvi contar uma nova aventura do moleque.
Seguindo ordens do psiquiatra, apesar de eu ter relutado muito, João está indo sozinho para escola. Tudo bem que eu moro numa cidade onde o último crime de homicídio deve ter uns 3 anos e o crime da semana é um cachorro sumido, que muita gente(eu inclusive) acha que fugiu e não foi roubado, como o dono alega. Mesmo assim, soltar meu pivete para ir e voltar da escola sozinho foi quase um parto.
A escola fica a uns 8km de distância o que impossibilita ir andando. Até o meio do ano passado ele ía e voltava de Van. Era prático por que mantinha uma rotina simples dele entender, sempre nos mesmos horários de ida e volta, sempre com as mesmas pessoas. Essa estabilidade é fundamental para autistas, eles se desequilibram facilmente com qualquer quebra de rotina, então ele ficava bem tranquilo sabendo exatamente o que iria acontecer.
Só que além de autista, antes disso, ele é um pré adolescente...quer ser igual aos amigos. E aqui, nenhuma criança com mais de oito anos vai para escola de Van! Vão de bicicleta, de ônibus, até a cavalo! De Van de jeito nenhum. Foi só quando eu percebi, que todas as crianças que começaram com ele na Van já estavam andando sozinhas e que ele era o mais alto do grupinho, que eu me toquei que os argumentos do psiquiatra eram realmente importantes.
Comecei devagar....deixei ele ir para escola com uma funcionária que trabalhava no mesmo horário. Quando ela não ía, lá ía eu de ônibus levar o pivete. Claro que ele não achou muito boa essa troca. Pior que andar de Van, só ser levado pela mãe!
Esse ano tomei uma decisão radical. Ele iria sozinho e eu iria ter que aguentar a ansiedade. Tudo bem que a aposentadoria da funcionária e a cara de desgosto dele, quando insinuei a volta do transporte de Van, tiveram um peso grande na decisão.
As coisas correram muito melhor do que o meu desespero de mãe super protetora imaginou. Em uma semana ele se adaptou a nova rotina e passou a ir e voltar. A carinha de contente ao descer sozinho do ônibus em frente em casa valeu os meus novos cabelos brancos. E tudo correu direitinho até quinta-feira passada. Quando o ônibus das 17:30h passou e ele não desceu dele.
Aqui vale uma explicação. Eu moro num distrito afastado, aqui o ônibus passa em horários determinados e com intervalos que vão de uma a duas horas, dependendo do período do dia. São normalmente micro ônibus, que não aceitam o passe especial que o João tem. Quando vou ao médico pago passagem até o centro do munícipio, onde só então tenho transporte gratuito. Isso daria outro post e prometo comentar depois. O que importa é que eles sempre trouxeram as crianças de escola pública(caso do João) sem problemas. Mas na quinta-feira houve uma alteração. Proibiram o transporte de alunos e colocaram um novo ônibus, de duas portas, as 18:20h para trazer esses alunos.
Não vou listar aqui os adjetivos que usei com o motorista, que infelizmente era novo na linha e não conhecia o João, quando ele chegou aqui sem meu filho. Peguei a bicicleta e fiz 8km em uns 15 min. E, apesar da minha crise de mãe sufocante, vi que, pra variar, o psiquiatra estava certo. Ele estava sentadinho no ponto de ônibus, esperando. Ou eu ou o próximo ônibus, um dos dois ía vir. Ele disse isso, com uma cara irritada. Estava irritado, agitado com a quebra da rotina, mas foi capaz de lidar com ela. O que, claramente, não teria sido seis meses atrás.
E, ontem ele mostrou que a decisão de deixá-lo andar sozinho, apesar dos meus cabelos brancos, tem dado resultados muito maiores que apenas uma economia no transporte. O ônibus quebrou e só haveria outro em mais de 1h. Ele não apenas foi capaz de lidar com a mudança, como foi além. Uma coleguinha ligou para a mãe ir buscá-la de carro e João, espertamente, descolou uma carona!
Então é isso. Para quem perguntou do João, ele anda vivendo aventuras rodoviárias....

PS: Para os paulistas (viu, BeBé?) Van é o mesmo que Perua!


 
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