Eu queria escrever um texto sobre as mães sem usar aquelas velhas frases clichês, que ouvimos todo ano. Eu queria escrever um texto sem lembrar que mãe só tem uma, que a minha é a melhor ou então que ser mãe é padecer no paraíso. Por que ser mãe é ótimo, incrível, fantástico...mas, dá um trabalho danado! Por isso quero falar para as mães.
Mãe é o único emprego vitalício que eu conheço. Mentira...Papa também é Papa até morrer. Mas, convenhamos, ser Papa é bem menos trabalhoso! Mãe é uma espécie de emprego público...você nunca é mandada embora.. Só que sem férias, nem décimo terceiro. E no emprego, por maior que seja o trabalho, um dia você se aposenta! Agora me diga: você já ouviu falar de mãe aposentada?
Na vida, você pode ser ex-mulher, ex-amante, ex-amiga, mas nunca será ex-mãe. Depois que um filho nasce você está num emprego de 24h diárias e sem direito a rescindir o contrato. Mesmo que ele seja um chorão noturno ou tenha crises de birra por cinco anos seguidos.
Você se tornará tudo aquilo que jurou que não seria. Lembra as crises de raiva por que sua mãe fez ou não fez algo? Lembra de quando ela disse que você não podia ir naquela festa imperdível? Ou de todas as 98756754536 de vezes que ela mandou você escovar os dentes? Lembra de todas as vezes que você jurou que seria uma mãe melhor, que não cometeria os mesmos erros? Pois é...você conseguirá, irá cometer erros novos!
Nunca entendi por que não exigem carteira de habilitação para mãe. Se você quer ser motorista lhe exigem um monte de horas de aulas teóricas, prova de habilidade e exames de saúde. No entanto, lhe entregam um bebê indefeso sem perguntarem sequer se você sabe o que é uma fralda descartável! Sem direito a mandar o bebê para o mecânico quando ele vazar ou abastecer no posto mais próximo. E carro você pode trocar a cada ano por um mais novo e mais fácil de dirigir...um bebê envelhece e se torna mais complicado a cada ano!Se você um dia achou que fraldas, cólicas e noites sem dormir eram seus piores pesadelos espere o primeiro dia na escola, o primeiro osso fraturado ou a primeira festinha da turma.
Por que uma pessoa em sã consciência escolhe entrar num emprego onde terá que pagar para trabalhar e não receber? Intermináveis pacotes de fraldas, brinquedos, material escolar, aquela bolsa ma-ra-vi-lho-as que ela não pode deixar de ter por que a turma inteira tem...
Eu nunca encontrei respostas. E não importa se essa foi uma escolha consciente, que levou anos de espera e desejo, ou se foi um acidente, um descuido, depois do dia que você leu o “positivo” nada mais foi igual.
Você se sentiu invencível e frágil, feliz e assustada, a melhor do mundo e a mais fraca também. E a melhor parte desta história é que mesmo assim você continuou. E, quem sabe, até convenceu seus filhos de que tudo isso foi muito fácil. Que mãe não tem medo, raiva, conflitos, impaciência, TPM e vontade de sumir de vez em quando. Que não se sente a pior mãe do mundo três vezes por semana e nem tem vontade de despachar os filhos numa viagem para o Alasca entre uma suspensão e um dedo quebrado.
Esse é o grande mistério. Fazer da aventura mais delirante do mundo uma brincadeira de criança, entre histórias para dormir e beijos molhados com cheiro de chocolate.
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