domingo, 14 de setembro de 2008

Adote um Focinho Carente!


Muitos e muitos anos atrás o seu tataravô retirou das matas o meu tataravô. E eles fizeram um acordo, ainda que sem palavras. Em troca de comida e abrigo o meu ancestral devia proteger a aldeia e cuidar da tribo. Parecia uma troca justa. Ele não precisaria mais correr atrás da caça arisca, não precisaria procurar abrigo e nem temeria os predadores...parecia.
E por vários anos formaram uma parceria útil para todos. E os filhos dos filhos do meu ancestral foram se acostumando com essa vida.
Um dia o homem decidiu que podia melhorar essa parceria(para ele, claro!). E resolveu nos “aperfeiçoar”. E então ganhamos pelagens diferentes, orelhas caídas ou eretas, maiores, menores, com pouco pêlo, com muito pêlo, magros ou pesados, altos, baixos, compridos, de olhos azuis...E o homem viu que podia aproveitar nossas habilidades em outros trabalhos. E usou nosso faro, nossos olhos, nossa força...
Viramos guias de cego, farejadores, puxamos trenós, caçamos...nos ensinaram truques, descobriram que fazemos bem a saúde e viramos terapeutas...tudo parece perfeito não? Mas não é...
Nesse processo o homem nos moldou a sua necessidade e pelo caminho alterou nossos instintos, mudou nosso comportamento, selecionou nossa genética. E fomos esquecendo daquela vida dos nossos ancestrais. Já não sabemos mais caçar, nem lembramos como é procurar um rio para beber água. Nos acostumamos a esperar a ração e a levar o pote de água até você para pedir que seja reabastecido. Esquecemos como é preciso procurar uma caverna que sirva de abrigo por que você nos ensinou a viver em casinhas e nos aqueceu com panos. E lá fora tudo mudou...
O homem habitou quase todos os espaços e hoje os meus predadores já não são os guepardos, mas os carros, o veneno de rato, os vírus...Então entenda: eu não sou mais um animal selvagem. Eu dependo de você. Lembra daquele acordo que fizemos lá atrás? Eu cumpri minha parte. Protegi e amei gerações dos seus. E acompanhei você até aqui. Agora faça a sua parte, lembre-se que você me trouxe até aqui, até o que eu sou hoje. E eu não sei fazer o caminho de volta.
Quem ama não abandona!
 
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